Miguel Bastos Araújo (Bruxelas, 1969) Biogeógrafo, investigador e professor universitário é um especialista de renome mundial no estudo dos efeitos das alterações climáticas na biodiversidade. É um dos cientistas com mais citações a nível mundial, de acordo com a Thomson Reuters, tendo sido identificado nos anos de 2014, 2015, 2016, 2017 e 2018 como "highly cited". Com mais de 200 títulos científicos publicados, foi galardoado com vários prémios internacionais. Em 2018 ganhou o Prémio Pessoa, tendo sido o primeiro cientista ambiental a recebê-lo.
Conferência: Biogeografia: da explicação à previsão.
A biogeografia é a ciência que estuda distribuição da vida no planeta. Ao estudar entidades biológicas, a biogeografia é uma ciência fortemente ancorada na biologia. No entanto, ao estudar a geografia dessas entidades, a biogeografia não é viável sem recurso a abordagens conceptuais e analíticas da geografia. Historicamente, a biogeografia surgiu do espanto. Isto é, da curiosidade que as elites de países patrocinadores de viagens ultramarinas sentiam ao serem expostos aos troféus biológicos que marinheiros e cavaleiros traziam de outras paragens. O primeiro desafio com que se defrontaram foi a catalogação de espécies que encontravam. A esta fase, que deu origem à taxonomia e mais tarde à biologia molecular, sucedeu-se a necessidade de cartografia do catálogo. O segundo desafio foi o de procurar compreender os mecanismos ambientais e históricos que controlam as distribuições das espécies e que geram diferenças entre regiões biogeográficas. A estas fases, que podemos classificar de fases de descrição e de explicação, sucedeu uma terceira fase de análise e modelação de padrões biogeográficos. A modelação biogeográfica foi possível graças, por um lado, à formulação de novas teorias (apoiadas na generalização de observações empíricas ao longo de séculos) e, por outro, pela emergência de novas abordagens quantitativas e computacionais que permitiram a análise de grandes bases de dados sobre a distribuição de espécies. A necessidade de compreender e projetar os efeitos futuros das atividades humanas na distribuição da biodiversidade e de quantificar os efeitos destas atividades no funcionamento da biosfera e nos serviços proporcionados pelos ecossistemas, tem motivado avanços substanciais na ciência biogeográfica.